terça-feira, 20 de outubro de 2009

~ Um Estudo Sobre Hamlet ~
"O mundo é todo um palco."
Lema do Globe Theater, 1599


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– Hamlet e Ofélia
Hamlet, príncipe da Dinamarca, peça escrita provavelmente em 1600/2, é seguramente a tragédia de Shakespeare mais representada em todos os tempos e a que mais se prestou a interpretações de toda ordem. Praticamente todos os escritores e pensadores importantes nos últimos quatro séculos deixaram suas impressões sobre o impacto que lhes causou a história do infeliz príncipe da Dinamarca, constrangido a fazer, sem nenhuma vocação para tal, uma terrível vingança.



~ Estrutura e inspiração ~

Estrutural e tecnicamente, Hamlet é a peça mais longa escrita por Shakespeare (4.042 linhas com 29.551 palavras, 73% delas em verso e 27% em prosa) e, provavelmente, a que mais lhe deu trabalho. Supõe-se inclusive a existência de um esboço original que teria sido alinhavado uns dez ou 12 anos antes da sua conclusão, ali por 1588. Texto que os críticos denominaram de Ur-Hamlet (um primeiro Hamlet). Isso porém são especulações, pois a influência mais direta sobre ele veio mesmo da peça The Spanish Tragedie,
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– O castelo de Elsenor, palco da tragédia
Uma Tragédia Espanhola, de um autor de menor importância chamado Thomas Kyd, que a encenou possivelmente em 1590. Não seria a primeira vez na história cultural, nem a última, em que um traço tosco qualquer servisse como chispa para que alguém de talento ou gênio empolgue-se fazendo dele maravilhas.





~ A história de Hamlet ~

A fonte original da história do príncipe dinamarquês encontrou-se na Gesta Danorum, obra de Saxo Gramaticus, (1150-1206), escrita em latim mas que recebeu o título de Danish History, na edição inglesa de 1514. A versão que chegou às mãos de Shakespeare é de se supor tenha sido a de Belleforest, intitulada de Histoires Tragiques, de 1570. Coube ao bardo alterar alguns aspectos do enredo e os nomes originais dos personagens. No Hamlet de Shakespeare, por exemplo, Fergon, o rei criminoso que mata o irmão para ficar com o trono e a cunhada chama-se Cláudio; o rei morto Horwendil passou a ser Hamlet-pai, enquanto a rainha Gerutha tornou-se simplesmente Gertudres. Amleth, o filho vingador, foi regrafado como Hamlet (o mesmo nome que Shakespeare deu ao seu filho Hamnet, que morreu na infância). Tudo indica que a tragédia, que se passa no castelo de Elsenor, na Dinamarca, era muito popular entre os escandinavos em geral, havendo uma série de lendas dela derivada. Acredita-se que mesmo na época de Shakespeare, uma versão alemã da tragédia do príncipe dinamarquês corria encenada pela Europa.

~ Os personagens ~


Além de Hamlet, fingindo-se boa parte do tempo de louco — e que domina a peça do princípio ao fim como uma estrela lúgubre, sempre trajando preto, demonstrando o luto como um desagrado moral — está o seu rival, o tio Cláudio. Este teria assassinado o pai de Hamlet por meio de um estratagema covarde (Cláudio pingou gotas de um funesto licor no ouvido do rei Hamlet enquanto este dormia num banco de um jardim no castelo de Elsenor). Havia pois algo de podre no Reino da Dinamarca!
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– Hamlet depara-se com a caveira
Em meio a esses dois leões que vão nutrindo, um pelo outro, um ódio crescente ao longo da história, tentando ser um algodão entre os cristais, está a rainha Gertudres, mãe de Hamlet, e também Polônio, o ministro da casa. Polônio não só é o típico cortesão que pretende acomodar tudo, como também é o pai da jovem Ofélia, a frágil prometida de Hamlet. Ele também tem um filho, Laertes, estudante como Hamlet, que mais tarde, cabalado por Cláudio, vai querer vingar a morte do pai, pois o desastrado Polônio terminara, por engano, mortalmente estocado por Hamlet ao esconder-se atrás de uma cortina no quarto da Rainha Gertrudes. Ao redor desses personagens centrais, circulam outros de menor expressão como Rosencrantz e Guildenstern, ex-colegas de Hamlet que também são aliciados na trama por Cláudio.





~ Um final terrível ~


Depois de peripécias mil, Hamlet, no ato final, vê-se desafiado para um duelo de espada por Laertes. O jovem, devidamente instrumentalizado por Cláudio, que lhe insuflou o desejo de vingança, ainda aceitou participar de uma perfídia. Sabendo ser Hamlet um bom espadachim, deixou-se convencer, pelo rei
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– A morte de Hamlet
criminoso, em embeber com mortal veneno a lâmina da sua espada. Garantia-se assim de que o príncipe não sairia vivo do recinto da corte, fosse qual fosse o resultado da peleja. O desfecho, porém, foi tétrico. Deu-se uma sucessão avassaladora de mortes. A sala da corte do rei Cláudio tornou-se o sepulcro da dinastia dos Hamlet. Ferido de morte por uma estocada de Hamlet, Laertes, agonizante, revelou-lhe o plano monstruoso do tio. O príncipe, àquela altura, trazia no sangue a poção maligna, pois Laertes o atingira de raspão.







~ Espadas e venenos ~



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– O espectro do pai exige que o filho o vingue
Não querendo entregar-se à morte, que já lhe anuviava a mente, antes de poder cumprir com a vingança final, Hamlet concentra sua forças para, num só golpe, prostrar o rei Cláudio. Este morre na hora. A rainha Gertrudes, por sua vez, desconhecendo a segunda armadilha que o rei preparara para o seu filho, emborca num gesto só uma taça envenenada que o marido deixara de reserva sobre uma bandeja. Sofre uma síncope instantânea. A cena é brutal. Corpos jazem por todos lados. Laertes e Cláudio, sangram até a morte trespassados pela lâmina de Hamlet, enquanto esse e a rainha sua mãe contraem-se empeçonhados.
Nesse momento, eis que surge o jovem Fortimbrás, o novo rei da Dinamarca que viera reclamar o trono (o pai de Fortimbrás vira-se usurpado pelo rei Hamlet). Contemplando o horrível quadro, ele compreende que a justiça final fora feita. A ordem voltara a imperar no Reino da Dinamarca. Purificava-se o trono. A podridão de cercava o reino fora removida.


~ O Hamlet de Goethe ~



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– Hamlet mata Polônio
Goethe, por exemplo, (Os anos de aprendizagem de Wilhelm Meister, livro IV, cap. 3 e 13), registrou que a verdadeira tragédia de Hamlet, ou que pelo menos mais o tocou, a ele Goethe, deu-se pela súbita ruína que acometeu aquele jovem na sua até então vida segura e de aparente bom convívio familiar. Num repente, com a súbita aparição do espectro do pai, deu-se um terremoto na vida dele. Sofreu desmoronamento total da confiança na ordem ética que era representada pelo elo que o ligava aos pais, os quais amava e honrava, e que rompera-se de uma maneira tão horrenda ao descobrir a sordidez que envolvia a morte do pai e o repentino casamento da sua mãe, a rainha Gertrudes.
Era Hamlet, para ele, um jovem terno, sensível, que procurava o mais elevado caminho ideal. Modesto, mas com insuficiente força interior, vê-se num repente diante da necessidade de: "uma grande ação" que lhe "é imposta a uma alma que não está em condições de realizá-la." ..... "um ser belo... que sucumbe sob a carga que não pode carregar sem a jogar para longe de si." Tornou-se uma espécie de paradigma involuntário do intelectual, pois quase sempre suas ações eram paralisadas pela exuberante atividade do seu pensamento.



~ O Hamlet de Freud ~
 

A "modernização" psicológica de Hamlet deu-se pela abordagem que Freud fez no seu A Interpretação dos Sonhos, de 1900, quando comparou-o à figura de Édipo, o trágico rei de Tebas, personagem de Sófocles. Observou, porém, Freud que a fantasia infantil de Hamlet ficou por tempos reprimida, só aflorando numa situação similar à da neurose, bem mais tarde. Para Freud, Hamlet era um histérico que aparentava ter, como demonstram suas atitudes para com Ofélia, repulsa ao sexo.
Não o vê porém como um incapaz, concentrado apenas a executar vinganças imaginárias. Afinal ele livra-se, com uma maquinação digna de um discípulo de Maquiavel (obra que Shakespeare conhecia), dos cortesãos Guilderstern e Rosencrantz, que estavam ao serviço do rei Cláudio, como também foi capaz, como se viu, de, num gesto fulminante, trespassar com seu florete a Polônio (que o espionava por detrás da cortina no quarto da rainha Gertrudes). Freud observa que a inação de Hamlet devia-se a que o seu tio Cláudio fizera o que o jovem príncipe (ainda que em seus instantes mais sombrios e reservados momentos oníricos), desejava ter feito: matar o próprio pai!
Mesmo reconhecendo que a criatividade de um poeta é formada por diversos motivos, Freud enfatiza que (como não podia deixar de ser para o fundador da ciência da subjetividade), ao escrever Hamlet, o fez sob o impacto da morte do seu pai, John, o que explicaria a presença de um espectro paterno no primeiro ato da peça, e lembra também que um dos filhos dele chamava-se Hamnet, concluindo que "a vida anímica do personagem não era outra senão a do próprio Shakespeare".
Dessa maneira a mais longa peça de Shakespeare seria aquela que carregava as maiores evidências da subjetividade do autor, a que trazia as digitais do gênio por assim dizer.



~ Hamlet maquiavélico ~


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– Ofélia, a inocência que sucumbe no tumulto
Erich Auerbach (Mimesis, no capítulo 13) contraditando Goethe, considerou a interpretação do poeta alemão como adequada ao romantismo do século XVIII. Para ele, e também para Harold Bloom, o personagem de Shakespeare, bem ao contrário do parecer de Goethe, nada tem de rapaz inocente. Hamlet é isto sim astucioso e até temerário em seus ataques. Utiliza-se tanto da dureza selvagem no seu trato com Ofélia, como é capaz do mais absoluto sangue frio quando, ardilosamente, se desfaz dos já citados cortesãos que poderiam atrapalhar o seu plano. Não é, pois, um personagem débil. Ao contrário. É o mais forte da peça. Impõe respeito e temor e parece agir dominado por forças demoníacas. Os seus impulsos, por vezes, parecem predominar sobre tudo o demais. O retardo em agir pode ser visto apenas como um estratagema de um animal cauteloso, um tarimbado sobrevivente das cortes renascentistas, esperando a melhor hora de atacar, e não alguém fragilizado pela indecisão ou pelo medo.




~ A tragédia da inteligência ~

Hamlet é também uma tragédia da inteligência. As artimanhas cerebrais do príncipe são um poderoso instrumento na elaboração da grande vingança. É o que o orienta em reproduzir em frente a toda a corte, quase de improviso, aproveitando-se da presença de uma trupe de atores, a cena da morte do seu pai, para expor o seu assassino, o rei Cláudio. Quase toda a ação que ocorre na peça é geralmente precedida de uma concepção intelectual, que alterna-se com rompantes bruscos e violentos que terminam conduzindo-o ao trágico final. Seja como for é um cérebro quem conduz a espada.


~ Hamlet e Édipo ~

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– Hamlet, entre o rei e sua mãe
Para o discípulo e biógrafo de Freud, o dr. Ernest Jones (Hamlet e o Mito do Complexo de Édipo), a aparição do espectro do pai e o desejo de vingança que então o acomete não passa de um delírio psicótico, comum de ocorrer com quem é atormentado pelo complexo de Édipo. Hamlet não pode perdoar a mãe ter-se casado novamente. Imaginava-se, após a morte do pai, seu substituto, o centro máximo das atenções de Gertrudes. Eis que esse Édipo vê-se frustrado pelo casamento feito um tanto às pressas dela com seu tio Cláudio. Na sua fantasia, o tio usurpou-lhe não só o trono como o afeto da mãe. A vingança resultante nada mais era do que o pretexto para canalizar a frustração dele em ter sido preterido.




~ Contexto religioso ~

Escrita numa época de turbulência religiosa, e no despertar da Reforma Inglesa, Hamlet é alternadamente Católica (ou supersticiosamente medieval) e Protestante (ou conscientemente moderna): o fantasma do Rei Hamlet diz que está no purgatório e morrendo sem últimos sacramentos. Isso e a cerimônia fúnebre de Ofélia, que é caracteristicamente católica, perfazem a maior parte da conexão do Catolicismo com o enredo da peça. Certos estudiosos têm observado que as tragédias de vingança surgem em países tradicionalmente católicos, como a Espanha e a Itália; e, no entanto, isso é um paradoxo, visto que a doutrina católica prega o dever para com a família e com Deus. O dilema de Hamlet, então, é se vingar de seu pai matando Cláudio, ou deixar a vingança nas mãos de Deus, como exige sua religião.

– A morte misteriosa de Ofélia, por afogamento, inspirou milhares de pintores. A discussão dos rústicos sobre se sua morte foi um suicídio e se ela merece um enterro cristão é um tema amplamente religioso.
(Pintura de Millais, 1852).
Grande parte do Protestantismo de Hamlet resulta provavelmente em sua localização na Dinamarca — que era desde o tempo de Shakespeare predominantemente um país protestante, embora não esteja claro se a localização ficcional da peça nesse país esteja realmente destinada a esse fato. A obra faz menção a Wittenberg, onde Hamlet, Horácio e Rosencrantz e Guildenstern freqüentaram universidades, e em que Martinho Lutero pregou pela primeira vez suas 95 teses. Quando Hamlet diz que "há uma iniludível providência na queda de um pardal." ele reflete a idéia protestante de que a vontade de Deus — Divina Providência — controla até mesmo o menor evento. Diferentemente, no Q1 a mesma passagem aparece da seguinte forma: "Há uma providência predestinada na queda de um pardal.", o que sugere uma ligação ainda mais forte com o protestante João Calvino, através da doutrina da predestinação, cuja definição, muito bonita, vem do Apóstolo Paulo: “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo: Ele nos abençoou com toda bênção espiritual, no céu, em Cristo. Ele nos escolheu em Cristo antes de criar o mundo para que sejamos santos e irrepreensíveis diante dele, no amor. Ele nos predestinou para sermos seus filhos adotivos por meio de Jesus Cristo, conforme a benevolência de sua vontade, para o louvor da sua glória e da graça que ele derramou abundantemente sobre nós por meio de seu Filho querido.” (Ef. 1:3-5). Certos estudiosos estimam que essa passagem tenha sido censurada, pois só aparece em Q1.


~ Contexto filosófico ~

Hamlet é freqüentemente encarado como um personagem filosófico, que expôs idéias agora conhecidas como relativistas, existencialistas e céticas. Por exemplo, ele expressa uma idéia relativista quando se dirige para Rosencrantz e diz: "não há nada que seja bom ou mau, o pensamento é que faz uma coisa ou outra". A idéia de que nada é mau, exceto na mente do indivíduo, encontra suas raízes nos gregos sofistas, crentes de que, uma vez que nada pode ser percebido exceto através dos sentidos — e uma vez que todas as pessoas sentem e, portanto, percebem as coisas de maneira diferentemente entre si — não há verdade absoluta, apenas a verdade relativa sobre as coisas. O exemplo mais claro do existencialismo, contudo, só está por vir, no célebre e famoso monólogo da tragédia:
"Ser ou não ser, eis a questão: será mais nobre
Em nosso espírito sofrer pedras e setas
Com que a Fortuna, enfurecida, nos alveja,
Ou insurgir-nos contra um mar de provocações
E em luta pôr-lhes fim? Morrer... dormir: não mais.
Dizer que rematamos com um sono a angústia
E as mil pelejas naturais-herança do homem:
Morrer para dormir... é uma consumação
Que bem merece e desejamos com fervor (...)"


– As idéias filosóficas em Hamlet talvez possuam conexões com alguns conceitos do francês Montaigne, contemporâneo de Shakespeare.
(Gravura de autor desconhecido).



Os críticos acreditam que Hamlet usa "ser" para aludir à vida e à ação, e "não ser" aludindo para a morte e a inércia. Com a palavra "consumação", os críticos acreditam que Shakespeare cita o francês Michel de Montaigne: "If it be a consummation of ones being, it is also an amendemente and entrance into a long and quiet life. Wee finge nothing so sweete in life, as a quiet rest and gentle sleep, and without dreams." Sendo consummation, em inglês; no original, em francês, anéantissement, isto é, aniquilação, o verso shakespeariano faz alusão a conclusão, a um final que é um atingimento, uma coroação. Na língua portuguesa, consumar também cumpre o sentido de "tudo está consumado" (concluído) ou "consumou-se o intento" (realizou-se, cumpriu-se).
Os estudiosos acreditam que Hamlet reflete o ceticismo contemporâneo prevalecido no Humanismo Renascentista. Anteriormente à época de Shakespeare, os humanistas argumentaram que o homem era a maior criação de Deus, feito à imagem divina, e capaz de escolher sua própria natureza, mas essa tese foi contestada notavelmente em Ensaios (1580 e 1588), de Montaigne. A frase "Que obra de arte é um homem", que vem de Hamlet, ecoa muitas idéias de Montaigne, mas os estudiosos discordam se Shakespeare realmente citou o ensaísta francês ou se isso não passa de coincidência, onde ambos reagiram semelhantemente diante do espírito da época.




~ A mais bem sucedida das histórias ~


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– Hamlet hesita em matar Cláudio
Hamlet é certamente a mais bem-sucedida história de vingança levada aos palcos. Ela, desde o início, coloca o público ao lado do jovem príncipe porque o ato da vingança, que Francis Bacon definiu como uma "forma selvagem de fazer justiça", sempre seduziu o a todos. Hamlet sente-se pois um reparador de uma injustiça, um homem com uma missão. A ela irá dedicar todos os momentos da sua vida, mesmo que tenha que sacrificar seu amor por Ofélia e ainda ter que tirar a vida de outras pessoas. Talvez seja essa obsessão, essa monomania que toma conta dele desde as primeiras cenas do primeiro ato, que eletrize os espectadores e faça com que eles literalmente bebam todas as palavras do príncipe vingador (Hamlet é o personagem que mais fala na obra de Shakespeare, recita 1.507 linhas).







~ Uma concepção excepcional ~


Além disso, a concepção da peça é espetacular. Os elementos que cercam a tragédia são impressionantes. O castelo assombrado de Elsenor, o espectro que ronda as altas torres clamando por vingança, o mal-estar e o clima de intrigas que se apossa da corte, um príncipe esquisito fingindo-se de louco, o belo achado shakespeariano de fazer teatro dentro do teatro, que o levou a encenar um pequeno drama para apurar um crime, as tramas paralelas, a visita noturna do jovem Hamlet ao cemitério, seguido do seu monólogo empunhando uma caveira, o horrível suicídio da bela e frágil Ofélia e, como conclusão, a tétrica dança da taça envenenada, sorvida em meio a um mortal duelo que encerram com um grand finale a tragédia, tudo isso faz dela um dos maiores achados teatrais de todos os tempos.
Quanto a sua construção literária, Hamlet expõe em cada ato, em cada cena, as mais belas imagens em verso e prosa da língua inglesa, beleza, diga-se, que consegue a façanha de manter-se mesmo nas adaptações e traduções que tem sido feitas até hoje. Não importando o idioma em que o traduziram. Pessoas de cultura média, e até sofrível, espalhadas pelos quatro cantos do mundo, guardam com facilidade uma ou outra passagem hamletiana qualquer de cor. O que mais poderia Shakespeare ambicionar para merecer a imortalidade?



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Bibliografia: Hamlet, William Shakespeare, Edited by Robert Hapgood, Cambridge University Press, 1999.
Hapgood, Robert. Hamlet. Shakespeare in Production. Cambridge: Cambridge University Press, 1999.
Kastan, David Scott, ed. Critical Essays on Shakespeare's Hamlet. New York: Simon and Schuster Macmillan, 1995.
Boyce, Charles. Shakespeare A to Z: The Essential Reference to His Plays, His Poems, His Life and Times, and More. New York: Facts on File, 1990.

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