domingo, 22 de novembro de 2009


O AMOR ...
É difícil para os indecisos.
É assustador para os medrosos.
Avassalador para os apaixonados!
Mas, os vencedores no amor
são os fortes.
Os que sabem o que querem
e querem o que têm!
Sonhar um sonho a dois,
e nunca desistir da busca de ser feliz,
é para poucos!

Cecília Meireles

Saudade é nunca mais saber de
quem se ama, e ainda assim doer.
Saudade é isso que eu estive
sentido enquanto escrevia
E o que você provavelmente estará
sentindo depois que acabar de ler.
Martha Medeiros

EU...

Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmãdo Sonho, e desta sorte
Sou a crucificada...a dolorida

Sombra de névoa tênue e esvaecida,
E que o destino amargo, triste e forte,
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida!

Sou aquela que passa e ninguém vê
Sou a que chamam triste sem o ser
Sou a que chora sem saber por quê

Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo pra me ver,
E que nunca na vida me encontrou!
*FLORBELA ESPANCA*

No fundo não sou literato, sou pintor.
Nasci pintor, mas como nunca peguei nos
pincéis a sério, arranjei, sem nenhuma
premeditação, este derivativo de literatura,
e nada mais tenho feito senão pintar com palavras.
-Monteiro Lobato -


O mar é — lago sereno,
O céu — um manto azulado,
O mundo — um sonho dourado,
A vida — um hino d'amor!.

Casimiro de Abreu



O destino de um anjo
não é estar onde ele quer,
e sim onde as pessoas precisam.




"... Não quero
ter os pés Fincados
no chão,
Dói muito...
Quero voar o mais
alto Que conseguir...
Vôos repentinos,
Os que traduzem
O meu sorriso ... "
.
Dú Karmona














Gosto e preciso de ti,
mas quero logo explicar:
Não gosto porque preciso...
Preciso sim por gostar.
-Mário Lago-



Todos nós temos nossas
máquinas de tempo.
Algumas nos levam de volta,
elas são chamadas recordações.
Algumas nos levam adiante,
elas são chamadas sonhos.
-Jeremy Irons-




Os anos enrugam o rosto,
renunciar a um ideal enruga a alma.
-Sula Cardoso -



Pequena hora da noite
Ardia a madrugada
Confusa, me perdia
A noite fugia
Para onde eu ia?
Escuridão fria,
Você
Tudo o que eu queria.
(Cáh Morandi)

sábado, 21 de novembro de 2009



Só há uma forma de se estar perto
quando se está muito longe:
se fecha os olhos, bem forte,
e pensa e deseja muito, muito, muito
estar juntinho de quem ama.
Porque no amor tem dessas coisas,
a gente só não pode abrir os olhos,
a gente só não pode deixar de acreditar...
.
Cáh Morandi



"Fiz tudo certo,
só errei quando
coloquei sentimento"
(Clarice Lispector)
Se um dia alguém fizer com que se quebre
a visão bonita que você tem de si, com
muita paciência e amor reconstrua-a.
Brahma Kumaris


Não se destrói com o tempo
o que se construiu com o coração.
-Márcio de Souza Junior-



domingo, 1 de novembro de 2009

Os erros de grandes homens... são mais fecundos que as verdades de pequenos.
Friedrich Nietzsche


As Vezes construímos sonhos em cima de grandes pessoas... O tempo passa... e descobrimos que grandes mesmo eram os sonhos e as pessoas pequenas demais para torná-los reais!
Bob Marley

As grandes idéias surgem da observação dos pequenos detalhes.
Augusto Cury


Os grandes só parecem grandes porque estamos ajoelhados
Che Guevara


Minha força está na solidão. Não tenho medo nem de chuvas tempestivas nem de grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite.
Clarice Lispector

Que os vossos esforços desafiem as impossibilidades, lembrai-vos de que as grandes coisas do homem foram conquistadas do que parecia impossível.
Charles Chaplin

Os homens erram, os grandes homens confessam que erraram.
Voltaire

A ausência apaga as pequenas paixões e fortalece as grandes.
François La Rochefoucauld

O orgulho dos pequenos consiste em falar sempre de si próprios; o dos grandes em nunca falar de si.
Voltaire

O amor e o desejo são as asas do espírito das grandes façanhas.
Johann Goethe

Quem não sabe aceitar as pequenas falhas das mulheres não aproveitará suas grandes virtudes.
Khalil Gibran

O trabalho poupa-nos de três grandes males: tédio, vício e necessidade.
Voltaire

O fracasso quebra as almas pequenas e engrandece as grandes, assim como o vento apaga a vela e atiça o fogo da floresta.
Benjamim Franklin

Nada é pequeno no amor. Quem espera as grandes ocasiões para provar a sua ternura não sabe amar.
Laure Conan

Os eruditos são aqueles que leram nos livros; mas os pensadores, os génios, os iluminadores do mundo e os promotores do género humano são aqueles que leram diretamente no livro do mundo.
Arthur Schopenhauer

As paisagens insignificantes existem para os grandes paisagistas; as paisagens raras e notáveis são para os pequenos.
Friedrich Nietzsche

Há favores tão grandes que só podem ser pagos com a ingratidão.
Alexandre Dumas


Não são os grandes planos que dão certo; são os pequenos detalhes.
Stephen Kanitz

Nas coisas pequenas, mais que nas grandes, muitas vezes reconhecemos o valor dos homens. Talvez eu represente apenas mais um que parte, mas na partida levarei saudades, deixando o meu agradecimento a todos pela ajuda e dedicação.
desconhecido

Os grandes feitos são conseguidos não pela força, mas pela perseverança.
Samuel Johnson

São as mulheres que nos inspiram para as grandes coisas que elas próprias nos impedem de realizar.
Alexandre Dumas

Uma das grandes desvantagens de termos pressa é o tempo que nos faz perder.
Chesterton

Se fracassar, ao menos que fracasse ousando grandes feitos, de modo que a sua postura não seja nunca a dessas almas frias e tímidas que não conhecem nem a vitória nem a derrota.
Theodore Roosevelt

Os pequenos atos que se executam são melhores que todos aqueles grandes que apenas se planejam.
George C. Marshall

Aqueles que se dedicam demasiado às pequenas coisas tornam-se normalmente incapazes das grandes.
François La Rochefoucauld

Há grandes homens que fazem com que todos se sintam pequenos. Mas o verdadeiro grande homem é aquele que faz com que todos se sintam grandes.
Gilbert Chesterton

SAUDADE




Não te esquecerei jamais
Posso até morrer...mais
Minha alma levará a sua essência. Roseflôr

SER FELIZ!!!


Ser feliz é sua obrigação, não importa às dores passadas
O que importa agora e concentrar-se para não perder.
O caminho é difícil mais você consegue, determine
E você vai acordar diferente olhar e ver as coisas de uma
Outra forma, nada de esmorecer
A força está dentro de você... Olhe os erros como uma coisa
Boa sendo assim não cometera-los novamente. Lembre-se a felicidade depende
Da forma que você vê as coisas. Seja feliz sempre não deixe que ninguém estrague isso
Porque ela está dentro de você esperando um espaço para perpetuar abundantemente na sua vida. Roseflôr

obs:quem copiar por favor não tirar os creditos...foi escrito por mim!!!

 Biografia

Di famiglia Ebrea, emigrò con la famiglia in Brasile quando aveva appena due mesi. Ha cominciato a scrivere da bambina, quando abitava a Recife.

Clarice parlava molte lingue, fra cui Francese, Inglese e Italiano ma crebbe nell’ambiente familiare parlando l’idioma materno, l’ Iddish.
Opera Letteraria

Nel 1944 pubblicò il suo primo romanzo: Perto do coração selvagem (Vicino al cuore selvaggio):

Clarice Lispector ha sorpreso la critica con questo romanzo sia per un carattere completamente innovatore, che per uno stile frammentario che i critici ricondussero subito a James Joyce e Virginia Woolf, anche se un po' più rivoluzionario.
A.C. e D.C.
In realtà, lo stile di Clarice Lispector è andato oltre qualsiasi tentativo di codificazione. La scrittrice Francese Hélène Cixous arriva al punto di affermare che nella Letteratura Brasiliana vi è uno stile A.C. (Antes da Clarice - Prima di Clarice) e D.C. (Depois da Clarice - Dopo di Clarice).
La maturità

Il suo romanzo più famoso è A hora da estrela (L' ora della stella), l' ultimo pubblicato prima della sua morte. Questo libro narra della vita di Macabéa, una abitante del Nord-Est cresciuta nello Stato dell'Alagoas che emigra a Rio de Janeiro e va ad abitare in una pensione. La sua vita è narrata da uno scrittore immagniario: Rodrigo S.M.

Scegliere il romanzo migliore di Clarice Lispector, è sempre arduo. La critica si divide fra A Paixão Segundo G.H. (La Passione Secondo G.H.) e Água Viva (Acqua Viva).

Morì di cancro il 9 Dicembre 1977 il giorno prima del suo 57° compleanno. È sepolta al Cemiterio do Caju, a Rio de Janeiro.
Opere
    * Perto do coração selvagem 1944 (Vicino al cuore selvaggio)
    * O lustre 1946
    * A cidade sitiada 1949 (La città situata)
    * Alguns contos 1952 (Alcuni racconti)
    * Laços de família 1960
    * A maçã no escuro 1961 (La mela nel buio)
    * A legião estrangeira 1964
    * A paixão segundo G.H. (1964)
    * O mistério do coelho pensante 1967
    * A mulher que matou os peixes (1968)
    * Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres 1969 (Un apprendistato o libro dei piaceri)
    * Felicidade clandestina 1971
    * A imitação da rosa 1973
    * Água viva 1973
    * A vida íntima de Laura 1974
    * A via crucis do corpo 1974
    * Onde estivestes de noite 1974
    * Visão do esplendor 1975
    * A hora da estrela 1977

Opere postume
    * Para não esquecer 1978 (Per non dimenticare)
    * Quase de verdade 1978
    * Um sopro de vida (pulsações) 1978 (Un alito di vita - pulsazioni)
    * A bela e a fera 1979 (La bella e la bestia)
    * A descoberta do mundo 1984
    * Como nasceram as estrelas 1987 (Come sono nate le stelle. Storie e leggende brasiliane)
    * Cartas perto do coração 2001) (Carteggio con Fernando Sabino)
    * Correspondências 2002
    * Correio Feminino 2006 (Posta femminile)
    * Entrevistas 2007

Opere tradotte e pubblicate in italiano

    * La vita che non si ferma – Archinto – 2008
    * Come sono nate le stelle. Storie e leggende brasiliane - Donzelli – 2005
    * La scoperta del mondo. 1967-1973 – La Tartaruga – 2001
    * Le storie di Ovidio – Mondadori – 1998
    * Acqua viva - Sellerio Editore Palermo – 1997
    * Le storie di Ulisse – Mondadori – 1996
    * Dove siete stati di notte? – Giunti Editore – 1994
    * Un apprendistato o il libro dei piaceri – Feltrinelli – 1992
    * La passione secondo G. H. – Feltrinelli – 1991
    * L' ora della stella – Feltrinelli - 1989
    * La mela nel buio – Feltrinelli – 1988
    * La passione del corpo – Feltrinelli – 1987
    * Vicino al cuore selvaggio – Adelphi – 1987 (e successive)
    * Il segreto – Adelphi – 1987
    * Il segreto – La Tartaruga - 1999
    * Legami familiari – Feltrinelli – 1986 (e successive)
    * Il mistero del coniglio che sapeva pensare – Mondadori – 1986

Curiosità
Clarice Lispector ha tradotto in Portoghese, nel 1976 il libro Entrevista com o Vampiro (Intervista col vampiro) della scrittrice americana Anne Rice.

La prima edizione di Onde estivestes de noite (Dove siete stati di notte) fu ritirata, perché, erroneamente, pubblicata col punto esclamativo alla fine del titolo.

In un articolo pubblicato sul The New York Times, l'11 marzo del 2005, Clarice fu definita dal traduttore Gregory Rabassa l' equivalente di Franz Kafka nella Letteratura Latino-Americana

SAUDADE

Que saudade de você, isso está acabando comigo
Tento disfarçar pra ninguém perceber o vazio que
Estou sentindo depois que você saiu da minha vida
Posso até errar mais sei que a gente vai se encontrar
De novo, só não sei a onde e nem quando. amo-te Roseflôr






















postei esse vídeo porque ele retrata um amor de corpo e alma
um amor que não morre não importa as circunstâncias ...para
amar as vezes não é preciso está perto e sim está dentro. beijos Ros
e

quarta-feira, 28 de outubro de 2009



Os bonecos de barro
POR CLARICE LISPECTOR

O que ela amava acima de tudo era fazer bonecos de barro — o que ninguém lhe ensinara. — Trabalhava numa pequena calçada de cimento em sombra, junto à última janela do porão. Quando queria com muita força ia pela estrada até ao rio. Numa de suas margens, escalável embora escorregadia, achava-se o melhor barro que alguém poderia desejar: branco, maleável, pastoso: frio. Só em pegá-lo, em sentir sua frescura delicada, alegrezinha e cega, aqueles pedaços timidamente vivos, o coração da pessoa se enternecia úmido quase ridículo. Virgínia cavava com os dedos aquela terra pálida e lavada — na lata presa à cintura iam se reunindo os trechos amorfos. O rio em pequenos gestos molhava-lhe os pés descalços e ela mexia os dedos úmidos com excitação e clareza. As mãos livres, ela então cuidadosamente galgava a margem até a extensão plana . No pequeno pátio de cimento depunha a sua riqueza. Misturava o barro à água, as pálpebras frementes de atenção — concentrada, o corpo à escuta, ela podia obter uma porção exata de barro e de água numa sabedoria que nascia naquele mesmo instante, fresca e progressivamente criada. Conseguia uma matéria clara. e tenra de onde se poderia modelar um mundo.

Como, como explicar o milagre... Ela se amedrontava pensativa. Nada dizia, não se movia, mas interiormente sem nenhuma palavra repetia: Eu não sou nada, não tenho orgulho, tudo me pode acontecer; se quiser, me impedirá de fazer a massa de barro; se quiser, pode me pisar, me estragar tudo; eu sei que não sou nada. Era menos que uma visão, era uma sensação no corpo, um pensamento assustado sobre o que lhe permita conseguir tanto barro e água e diante de quem ela devia humilhar-se com seriedade . Ela lhe agradecia com uma alegria difícil, frágil e tensa; sentia em alguma coisa como o que não se vê de olhos fechados. Mas o que não se vê de olhos fechados tem uma existência e uma força, como o escuro, como a ausência — compreendia-se ela, assentindo feroz e muda com a cabeça. Mas nada sabia de si, passaria inocente e distraída pela sua realidade sem reconhecê-la; como uma criança, como uma pessoa.

Depois de obtida a matéria, numa queda de cansaço ela poderia perder a vontade de fazer bonecos. Então ia vivendo para a frente como uma menina.

Um dia, porém, sentia seu corpo aberto e fino, e no fundo uma serenidade que não se podia conter, ora se desconhecendo, ora respirando trêmula de alegria, as coisas incompletas. Ela mesma insone como luz — esgazeada, fugaz, vazia, mas no íntimo um ardor que era vontade de guiar-se a uma só coisa, um interesse que fazia o coração acelerar-se sem ritmo... de súbito, como era vago viver. Tudo isso também poderia passar, a noite caindo repentinamente, a escuridão fresca sobre o dia morno.


Mas às vezes ela se lembrava do barro molhado, corria alegre e assustada para o pátio: mergulhava os dedos naquela mistura fria, muda e constante como uma espera; amassava, amassava, aos poucas ia extraindo formas. Fazia crianças, cavalos, uma mãe com um filho, uma mãe sozinha, uma menina fazendo coisas de barro, um menino descansando, uma menina contente, uma menina vendo se ia chover, uma flor, um cometa de cauda salpicada de areia lavada e faiscante, uma flor murcha com sol por cima, o cemitério do Brejo Alto, uma moça olhando... Muito mais, muito mais. Pequenas formas que nada significavam, mas que eram na realidade misteriosas e calmas. Às vezes alta como uma árvore alta, mas não eram árvores, m:to eram nada...Ás vezes um pequeno objeto de forma quase estrelada, mas sério e cansado como uma pessoa. Um trabalho que jamais acabaria, isso era o que de mais bonito e atento ela já soubera. Pois se ela podia fazer o que existia e o que não existia!...


Depois de prontos, os bonecos eram colocados ao sol. Ninguém lhe ensinara, mas ela os depositava nas manchas de sol no chão, manchas sem vento nem ardor. O barro secava mansamente, conservava o tom claro, não enrugava, não rachava. mesmo quando seco parecia delicado, evanescente e úmido. E ela própria podia confundi-lo com o barro pastoso. As figurinhas assim, pareciam rápidas, quase como se fossem se desmanchar — e isso era como se elas fossem se movimentar. Olhava para o boneco imóvel e mudo. Por amor ou apenas prosseguindo o trabalho ela fechava os olhos e se concentrava numa força viva e luminosa, da qualidade do perigo e da esperança, numa força de sede que lhe percorria o corpo celeremente com um impulso que se destinava à figura. Quando, enfim, se abandonava, seu fresco e cansado bem-estar vinha de que ela podia enviar, embora não soubesse o que, talvez. Sim ela às vezes possuía um gosto dentro do corpo, um gosto alto e angustiante que tremia entre a força e o cansaço — era um pensamento como sons ouvidos, uma flor no coração: Antes que ele se dissolvesse, maciamente rápido, no seu ar interior, para sempre fugitivo, ela tocava com os dedos num objeto, entregando-o. E, quando queria dizer algo que vinha fino, obscuro e liso — e isso poderia ser perigoso — ela encostava um dedo apenas, um dedo pálido, polido e transparente, um dedo trêmulo de direção. No mais agudo e doído do seu sentimento ela pensava: Sou feliz. Na verdade, ela o era nesse instante, e se em vez de pensar: Sou feliz, procurava o futuro, era porque, obscuramente, escolhia um movimento para a frente que servisse de forma à sua sensação.


Assim juntara uma procissão de coisas miúdas. Quedavam-se quase despercebidas no seu quarto. Eram bonecos magrinhos e altos como ela mesma. Minuciosos, ligeiramente desproporcionados, alegres, um pouco perplexos — às vezes, subitamente, pareciam um homem coxo rindo. Mesmo suas figurinhas mais suaves tinham uma imobilidade atenta como a de um santo. E pareciam inclinar-se, para quem as olhava, também como os santos. Virgínia podia fitá-las uma manhã inteira, que seu amor e sua surpresa não diminuiriam.

— Bonito... bonito como uma coisinha molhada, dizia ela excedendo-se num ímpeto imperceptível e doce.

Ela observava: mesmo bem acabados, eles eram toscos como se pudessem ainda ser trabalhados. Mas vagamente, ela pensava que nem ela nem ninguém poderia tentar aperfeiçoá-los sem destruir sua linha de nascimento . Era como se eles só pudessem se aperfeiçoar por si mesmos, se isso fosse possível.

As dificuldades surgiam como uma vida que vai crescendo. Seus bonecos, pelo efeito do barro claro, eram pálidos. Se ela queria sombreá-los não o conseguia com o auxílio da cor, e por força dessa deficiência aprendeu a lhes dar sombra ainda por meio de forma. Depois inventou uma liberdade: com uma folhinha seca sob um fino traço de barro conseguia um vago colorido, triste assustada quase inteiramente morto. Misturando barro à terra, obtinha ainda outro material menos plástico, porém mais severo e solene. MAS COMO FAZER O CÉU? Nem começar podia! Não queria nuvens — o que poderia obter, pelo menos grosseiramente — mas o céu, o céu mesmo, com sua existência, cor solta, ausência de cor. Ela descobriu que precisava usar uma matéria mais leve que não pudesse sequer ser apalpada, sentida, talvez apenas vista, quem sabe! Compreendeu que isso ela conseguiria com tintas.

E às vezes numa queda, como se tudo se purificasse, ela se contentava em fazer uma superfície lisa, serena, unida, numa simplicidade fina e tranqüila.


O texto acima foi publicado na revista "Nordeste" (Ano XIII, nº 2, julho de 1960, Recife-PE) e consta do romance "O Lustre", publicado em 1946. Foi extraído de reprodução feita pela Oficina do Livro Rubens Borba de Moraes, produção editorial de Giordanus - São Paulo, maio de 2003, sendo mais uma colaboração de João Antônio Bührer e seus "Arquivos Implacáveis".

Não há identificação do autor das ilustrações, que serão talvez de Ladjane que, com Esmaragdo Marroquim, assume a direção da revista. Declinam-se também M.Bandeira, José Cláudio e Karl Plattner como ilustradores do exemplar utilizado.

Escrever, Humildade, Técnica
Clarice Lispector

Essa incapacidade de atingir, de entender, é que faz com que eu, por instinto de... de quê? procure um modo de falar que me leve mais depressa ao entendimento. Esse modo, esse "estilo" (!), já foi chamado de várias coisas, mas não do que realmente e apenas é: uma procura humilde. Nunca tive um só problema de expressão, meu problema é muito mais grave: é o de concepção. Quando falo em "humildade" refiro-me à humildade no sentido cristão (como ideal a poder ser alcançado ou não); refiro-me à humildade que vem da plena consciência de se ser realmente incapaz. E refiro-me à humildade como técnica. Virgem Maria, até eu mesma me assustei com minha falta de pudor; mas é que não é. Humildade com técnica é o seguinte: só se aproximando com humildade da coisa é que ela não escapa totalmente. Descobri este tipo de humildade, o que não deixa de ser uma forma engraçada de orgulho. Orgulho não é pecado, pelo menos não grave: orgulho é coisa infantil em que se cai como se cai em gulodice. Só que orgulho tem a enorme desvantagem de ser um erro grave, com todo o atraso que erro dá à vida, faz perder muito tempo.


Texto extraído do livro "
A Descoberta do Mundo", Editora Rocco - Rio de Janeiro, 1999.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Clarice Lispector

(Ucrânia, 1925 - Brasil, 1977)

Mude


Mude,
mas comece devagar,
porque a direcção é mais importante
que a velocidade. Sente-se em outra cadeira,
no outro lado da mesa.
Mais tarde, mude de mesa. Quando sair,
procure andar pelo outro lado da rua.
Depois, mude de caminho,
ande por outras ruas,
calmamente,
observando com atenção
os lugares por onde
você passa. Tome outros ónibus.
Mude por uns tempos o estilo das roupas.
Dê os seus sapatos velhos.
Procure andar descalço alguns dias. Tire uma tarde inteira
para passear livremente na praia,
ou no parque,
e ouvir o canto dos passarinhos. Veja o mundo de outras perspectivas.
Abra e feche as gavetas
e portas com a mão esquerda. Durma no outro lado da cama...
depois, procure dormir em outras camas. Assista a outros programas de tv,
compre outros jornais...
leia outros livros,
Viva outros romances. Não faça do hábito um estilo de vida.
Ame a novidade.
Durma mais tarde.
Durma mais cedo. Aprenda uma palavra nova por dia
numa outra língua.
Corrija a postura.
Coma um pouco menos,
escolha comidas diferentes,
novos temperos, novas cores,
novas delícias. Tente o novo todo dia.
o novo lado,
o novo método,
o novo sabor,
o novo jeito,
o novo prazer,
o novo amor.
a nova vida. Tente.
Busque novos amigos.
Tente novos amores.
Faça novas relações. Almoce em outros locais,
vá a outros restaurantes,
tome outro tipo de bebida
compre pão em outra padaria.
Almoce mais cedo,
jante mais tarde ou vice-versa. Escolha outro mercado...
outra marca de sabonete,
outro creme dental...
tome banho em novos horários. Use canetas de outras cores.
Vá passear em outros lugares.
ame cada vez mais,
de modos diferentes. Troque de bolsa,
de carteira,
de malas,
troque de carro,
compre novos óculos,
escreva outras poesias. Jogue os velhos relógios,
quebre delicadamente
esses horrorosos despertadores. Abra conta em outro banco.
Vá a outros cinemas,
outros cabeleireiros,
outros teatros,
visite novos museus. Mude.
Lembre-se de que a Vida é uma só.
E pense seriamente em arrumar um outro emprego,
uma nova ocupação,
um trabalho mais light,
mais prazeroso,
mais digno,
mais humano. Se você não encontrar razões para ser livre,
invente-as.
Seja criativo. E aproveite para fazer uma viagem despretensiosa,
longa, se possível sem destino.
Experimente coisas novas.
Troque novamente.
Mude, de novo.
Experimente outra vez. Você certamente conhecerá coisas melhores
e coisas piores do que as já conhecidas,
mas não é isso o que importa.
O mais importante é a mudança,
o movimento,
o dinamismo,
a energia.
Só o que está morto não muda !Repito por pura alegria de viver:
a salvação é pelo risco, sem o qual a vida não
vale a pena!!!!


Clarice Lispector



(Ucrânia, 1925 - Brasil, 1977)





Mas já que se há escrever...







Mas já que se há de escrever, que ao menos não se esmaguem com palavras as entrelinhas.

Clarice Lispector
(Ucrânia, 1925 - Brasil, 1977)

Deus


Mesmo para os descrentes há a pergunta duvidosa: e depois da morte? Mesmo para os descrentes há o instante de desespero: que Deus me ajude. Neste mesmo instante estou pedindo que Deus me ajude. Estou precisando. Precisando mais do que a força humana. E estou precisando da minha própria força. Sou forte mas também sou destrutiva. Autodestrutiva. E quem é autodestrutivo também destrói os outros. Estou ferindo muita gente. E Deus tem que vir a mim, já que eu não tenho ido a Ele. Venha, Deus, venha. Mesmo que eu não mereça, venha. Ou talvez os que menos merecem precisem mais. Só uma coisa a favor de mim eu posso dizer: nunca feri de propósito. E também me dói quando percebo que feri. Mas tantos defeitos tenho. Sou inquieta, ciumenta, áspera, desesperançosa. Embora amor dentro de mim eu tenha. Só que não sei usar amor: às vezes parecem farpas. Se tanto amor dentro de mim recebi e continuo inquieta e infeliz, é porque preciso que Deus venha. Venha antes que seja tarde demais.




















Clarice Lispector
(Ucrânia, 1925 - Brasil, 1977)

Declaração de amor

    
Esta é uma confissão de amor: amo a língua portuguesa. Ela não é fácil. Não é maleável. E, como não foi profundamente trabalhada pelo pensamento, a sua tendência é a de não ter sutilezas e de reagir às vezes com um verdadeiro pontapé contra os que temerariamente ousam transformá-la numa linguajem de sentimento e de alerteza. E de amor. A língua portuguesa é um verdadeiro desafio para quem escreve. Sobretudo para quem escreve tirando das coisas e das pessoas a primeira capa de superficialismo. Às vezes ela reage diante de um pensamento mais complicado. Às vezes se assusta com o imprevisto de uma frase. Eu gosto de manejá-la - como gosto de estar montada num cavalo e guiá-lo pelas rédeas, às vezes lentamente, às vezes para nos dar para sempre uma herança de língua já feita. Todos nós que  escrevemos estamos fazendo do túmulo do pensamento alguma coisa que lhe dê vida.
Essas dificuldades, nós as temos. Mas não falei do encantamento de lidar com uma língua que não foi aprofundada. O que recebi de herança não me chega.
Se eu fosse muda, e também não pudesse escrever, e me perguntassem a que língua eu queria pertencer, eu diria: inglês, que é preciso e belo. Mas como não nasci muda e pude escrever, tornou-se absolutamente claro para mim que eu queria mesmo era escrever em português. Eu até queria não ter aprendido outras línguas: só para que a minha abordagem do português fosse virgem e límpida.




Clarice Lispector
(Ucrânia, 1925 - Brasil, 1977)

Das vantagens de ser bobo


O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir, tocar no mundo.
O bobo é capaz de ficar sentado quase sem se mexer por duas horas.
Se perguntado por que não faz alguma coisa, responde: "Estou fazendo, estou pensando”.
Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os espertos só se lembram de sair por meio da esperteza, e o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem a idéia.
O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não vêem.
Os espertos estão sempre tão atentos às espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os vêem como simples pessoas humanas.
O bobo ganha utilidade e sabedoria para viver.
O bobo parece nunca ter tido vez. No entanto, muitas vezes, o bobo é um Dostoievski.
Há desvantagem, obviamente. Uma boba, por exemplo, confiou na palavra de um desconhecido para a compra de um ar refrigerado de segunda mão: ele disse que o aparelho era novo, praticamente sem uso porque se mudara para a Gávea onde é fresco. Vai a boba e compra o aparelho sem vê-lo sequer.
Resultado: não funciona.
Chamado um técnico, a opinião deste era que o aparelho estava tão estragado que o concerto seria caríssimo: mais vale comprar outro.
Mas, em contrapartida, a vantagem de ser bobo é ter boa-fé, não desconfiar, e, portanto estar tranqüilo.
Enquanto o esperto não dorme à noite com medo de ser ludibriado. O esperto vence com úlcera no estômago. O bobo não percebe que venceu.
Aviso: não confundir bobos com burros.
Desvantagem: pode receber uma punhalada de quem menos espera.
É uma das tristezas que o bobo não prevê. César terminou dizendo a célebre frase: "Até tu, Brutus?"
Bobo não reclama. Em compensação, como exclama!
Os bobos, com todas as suas palhaçadas, devem estar todos no céu.
Se Cristo tivesse sido esperto não teria morrido na cruz.
O bobo é sempre tão simpático que há espertos que se fazem passar por bobos.
Os espertos ganham dos outros. Em compensação, os bobos ganham a vida.
Bem-aventurados os bobos porque sabem sem que ninguém desconfie. Aliás, não se importam que saibam que eles sabem.
Há lugares que facilitam mais as pessoas serem bobas (não confundir bobo com burro, com tolo, com fútil). Minas Gerais, por exemplo, facilita ser bobo. Ah, quantos perdem por não nascer em Minas!
Bobo é Chagall, que põe vaca no espaço, voando por cima das casas.
É quase impossível evitar excesso de amor que o bobo provoca.
É que só o bobo é capaz de excesso de amor. E só o amor faz o bobo.

In “A Descoberta do Mundo”



Clarice Lispector
(Ucrânia, 1925 - Brasil, 1977)

Como tratar o que se tem


Existe um ser que mora em mim como se fosse casa sua, e é. Trata-se de um cavalo preto e lustroso que apesar de inteiramente selvagem - pois nunca morou em ninguém nem jamais lhe puseram rédeas nem sela - apesar de inteiramente selvagem tem por isso mesmo uma doçura primeira de quem não tem medo: come às vezes na minha mão. Seu focinho é úmido e fresco. Eu beijo o seu focinho. Quando eu morrer, o cavalo preto ficará sem casa e vai sofrer muito. A menos que ele escolha outra casa que não tenha medo do que é ao mesmo tempo selvagem e suave. Aviso que ele não tem nome: basta chamá-lo e se acerta com seu nome. Ou não se acerta, mas uma vez chamado com doçura e autoridade ele vai. Se ele fareja e sente que um corpo é livre, ele trota sem ruídos e vai. Aviso também que não se deve temer o seu relinchar: a gente se engana e pensa que é a gente mesmo que está relinchando de prazer ou de cólera.