terça-feira, 20 de outubro de 2009



Ato III      Cena II

Em seu quarto, Julieta pensa na noite de núpcias que a espera,
ainda antes de ter notícias de que Romeu foi banido.

JULIETA
Noite que faz o amor, fecha o teu pano
Pra que os olhos se fechem e Romeu
Venha para esses braços invisíveis.
Amantes sabem ver ritos de amor
Pela própria beleza. Se ele é cego,
O amor vai bem com a noite. Vem, ó noite,
Sóbria maratona toda em trajes negros,
E ensina-me a perder essa vitória
Em que é jogada a pura virgindade.
Cobre o meu sangue ingênuo, que palpita,
Com o manto negro até que o amor, ousado,
Veja o ato do amor como modéstia.
Vem, noite, vem, Romeu, vem dia em noite,
Pois nas asas da noite hás de mostrar-te
Tão branco quanto a neve sobre um corvo.
Vem, noite escura, delicada e amante;
Dá a mim meu Romeu, e se eu morrer
Retalha-o e faz com ele estrelas,
E ele dará ao céu um rosto tal
Que o mundo inteiro há de adorar a noite
Recusando-se a adorar o Sol.
Comprei uma mansão de amor,
Mas não a tenho. Mesmo vendida,
Ainda não fui possuída. O dia hoje
É longo com a véspera de festa
Pra menina que tem vestido novo
Ainda sem usar.

  ~ William Shakespeare ~


Nenhum comentário: